Bullying nos games!!!


Nem só de personagens fofinhos como Mario e Sonic é feito o reino dos videogames. Volta e meia aparecem jogos que são o pesadelo de pais, professores, psicólogos e políticos. A produtora norte-americana Rockstar, em particular, é especialista em criar polêmica desde que lançou “Grand theft auto”, um jogo no qual é possível roubar carros, bater em pedestres, matar policiais e gerenciar bordéis. Por causa dela, apareceu muita gente tentando censurar e até banir os jogos violentos nos Estados Unidos.
Ainda assim, a empresa está pronta para mexer em um vespeiro. Acaba de lançar “Bully”, game para o PlayStation 2, no qual o jogador assume o papel de um estudante secundário que enfrenta a violência de seus colegas. Bully é o termo usado para o assédio moral e muitas vezes físico sofrido pelos alunos. É a primeira vez que o tema é abordado em um jogo de videogame, e se torna ainda mais explosivo em um país abalado por recentes tiroteios em escolas, com um saldo de dezenas de mortos.
E a Rockstar não alivia. Embora fique longe de ser um “simulador de Columbine”, como acusou o ativista anti-videogames Jack Thompson, já que não há mortes, armas ou mesmo sangue, “Bully” tem características que podem assustar. É possível acertar outros alunos com tacos de beisebol e humilhá-los fazendo pedir desculpas após apanhar. Dá para ficar com meninas obesas oferecendo chocolate para elas. Também é possível atacar uma aluna ou até mesmo um professor, mas as punições serão severas. É neste momento que “Bully” mostra mais complexidade que a série GTA.
Enquanto em GTA tudo o que há para fazer é sair cometendo crimes para crescer na “carreira” sem muitas conseqüências (além de ser preso), as ações em “Bully” têm relação direta com o desempenho do jogador. São elas que vão determinar se Jimmy Hopkins, o protagonista do jogo, vai se tornar mais um bully ou ficará longe dos problemas. Se ficar amigo demais de um certo grupo, como os nerds, o jogador será também identificado como um deles e sofrerá nas mãos dos alunos encrenqueiros.
A idéia da Rockstar foi aproximar a experiência do jogo da experiência real. “A escola pode ser dura às vezes, nem sempre se trata de notas A”, disse Rodney Walker, porta-voz da Rockstar Games em entrevista ao jornal USA Today.
Nem todo mundo concorda com Walker e com a Rockstar. Mesmo com o jogo tendo sua venda liberada apenas para maiores de 13 anos de idade, o grupo Peaceholics pediu o banimento do jogo e disse que a Rockstar era “pior que terroristas” (veja protesto feito pelo grupo na frente dos escritórios da Rockstar clicando aqui). Jack Thompson não perdeu a chance de mandar uma carta para o presidente da Take-Two Interactive, dona da Rockstar. “Columbine mudou a cara da América e vocês vêm com um jogo que celebra, glamoriza e treina crianças para fazer o que (Dylan) Klebold e (Eric) Harris fizeram. Vocês estão loucos?”, escreveu.
O escritor Gerard Jones, autor de “Brincando de matar monstros” (Ed. Conrad), livro que trata da influência da TV e dos videogames sobre crianças e adolescentes, não vê problemas em jogos como Bully. “Em geral, videogames são menos perturbadores que filmes ou programas de TV, porque as crianças têm controle sobre o que estão vendo”, disse. “Os personagens dos videogames são como brinquedos em uma caixa de areia: foram feitos para brincar, não são modelos de comportamento.”