Entrevista realizada com o especialista, Guilherme Romanelli


O Bullying com alunos de inclusão.
Ninguém gosta de passar rasteira em um sujeito que usa muletas.” Diz o Mestre e Doutor em Educação Especial com habilitação em Música Guilherme Romanelli .

Em entrevista realizada com o especialista, Guilherme Romanelli, pode-se observar que este problema atinge tanto alunos “normais” quanto àqueles que possuem algum tipo de deficiência. O problema Bullying é um assunto de intensidade ampla que preocupa toda a sociedade, e principalmente setores ligados a educação. Foram realizadas algumas perguntas ao especialista sobre como é o dia-a-dia de uma escola que trabalham com a inclusão.

Como um aluno de inclusão se sente emocionalmente em relação a uma turma convencional?
Bom, na realidade é complicado por que cada aluno especial tem particularidades, uns têm uma percepção maior de mundo e conseguem entender a totalidade da turma, já outros não. Alguns casos, como o de Síndrome De Down, em que eles já estão mais integrados a turma, muitas vezes têm a noção de que são um pouco diferente do resto da turma e trabalham isso de alguma forma muito particular. Há alunos que se sentem bem e outros nem tanto, é um pouco complexo. O mais interessante é o que provoca em relação à turma, a mudança de comportamento quando ela tem um aluno de inclusão, o que pode ser às vezes cognitivamente especial, cadeirante, ou alguém que use muletas, algo nesse sentido, é muito particular, cada caso é um caso. O que é indiscutível é que nenhuma turma é completamente neutra quando se tem um aluno especial.

Esses alunos da turma, geralmente, praticam Bullying com o especial?
Não. É isso que é interessante, bom, há casos isolados, mas normalmente eles sentem vontade de praticar o Bullying naquele que é o paralelo, o par, eles se sentem na condição de “esmagar” o seu colega que é semelhante. Quando há um aluno especial acontecem várias situações diferentes; uma que não é a boa é a de dó, “ai coitadinho” etc e tal, a outra é porque é tão diferente que se perde a referência e isso mexe muito, então, por exemplo: se um aluno é cadeirante os demais devem se acostumar com a dificuldade, ajudar a descer e subir escadas ou rampas, ir ao banheiro e várias outras situações específicas.
O processo de inclusão coloca o aluno especial dentro da sala de aula e obrigam os outros a refletirem o que é a individualidade de cada um. O problema é que não é automático que os colegas percebam e possam fazer a transposição daquilo que acontece com o especial para os ditos “normais”. Mas com certeza mexe na concepção de forma geral.

Caso haja Bullying, como o colégio age quando há conflitos entre alunos “normais” e especiais?
É interessante falar sobre isso, são experiências que eu tive enquanto professor de alunos especiais e minhas experiências enquanto aluno.Também existem currículos especiais, principalmente quando a criança é apenas levemente especial, então isso é um pouco complicado por que os alunos não conseguem entender: “é um aluno especial”, eles simplesmente acham que é uma criança ou adolescente que faz muita bagunça, que é “burro”, alguma coisa assim, então também existe isso, mas a tendência é que a coletividade dos jovens barre isso, falam “Pô! Olha o que você está fazendo com o cara, vê se pode” por que é aquela história, ninguém gosta de passar rasteira em um sujeito que usa muletas, já não tem graça, empurrar um cadeirante para ele se esborrachar no chão, agora fazer isso com um colega que sabe andar e tudo mais, aí o pessoal acha muito engraçado.

Se há casos de Bulliyng os alunos fazem sem querer ou intencionalmente?
O Bullying nunca é sem querer, é algo sarcástico, irônico e sádico; é o prazer de “esmagar” o outro, por mil razões: porque você tem problemas mal resolvidos, por exemplo. É o prazer de ridicularizar o outro por relações de poder e modelos culturais. Sem querer ele não faz, o que ele pode fazer é o que chamamos de “Maria vai com as outras”com a coletividade ele se arma, então ele tira sarro, dá risada o que às vezes ele não teria coragem de fazer sozinho, mas como todo mundo faz ele faz também.

Como a escola e os professores percebem que o aluno está sofrendo Bullying?
Eles devem observar muito bem, e tem que ter cuidado também para não virar super protetor, expor essa criança “cuidado, cuidado” tem que se controlar um pouquinho, porque se ele está em uma turma de inclusão é porque ele tem a possibilidade de se integrar de alguma forma, então é importante deixar acontecer os processos e as relações entre jovens normais. A partir de um momento que o professor age super protegendo demais um determinado aluno, isso só piora a situação, por exemplo: não só com alunos especiais, mas até mesmo com alunos “normais”, se o professor acolher “meu queridinho” e tal, os outros vão “montar em cima”, “ai, ele é queridinho(a) do(a) professor(a)”. O professor tem que permitir que as relações sociais normais aconteçam, o aluno deve ter a oportunidade de ocupar o seu espaço, e que os outros aprendam a respeitá-lo, mas é complicado.

Entrevista realizada por Ingrid Morgado e Letícia Gonçalves.